quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Futebol e Futsal feminino

Tânia Bandeira Quando se fala em futebol feminino, a história começa em 2.600 a. C. com os chineses, com o nome de kemari, por “Yang-Tse”. Esse era um jogo com equipes de oito jogadores cada, que se enfrentavam num campo quadrado com duas metas em postes de bambu ligados por um tira de seda e com uma bola recheada de cabelos. Com o passar dos tempos, surgiram outras civilizações que aderiram ao esporte com bola, mas cada um com nomes diferentes. Segundo Teixeira Jr. (2006), os gregos chamavam o futebol de Epyskiro, e os romanos de Harpastum, o qual era jogado com os crânios das vitimas das guerras. No Brasil, o futebol chega com Charles Miller, que, em 1894, traz para o país, em sua bagagem, duas bolas de futebol e uniformes, passando a ensinar esse esporte e assim funda o primeiro time, chamado “São Paulo Railway Team”. Ele também realiza o primeiro jogo de futebol, sendo entre o “São Paulo Railway Team” e o “The Team Gaz”, o qual termina com vitória da equipe de Miller por 4 a 2 (TEIXEIRA JR., 2006). Quanto ao futebol feminino, desde seu início não havia oportunidade para as mulheres o praticarem, pois elas eram apenas símbolos da beleza. Essa situação começa a se modificar a partir dos anos 1960, quando alguns países como Dinamarca, Suécia e Noruega começam a apresentar equipes femininas de futebol. “Assim a “Fifa” organiza a 1ª competição internacional em 1991 nos “USA”, em que se consagra a equipe americana como a primeira campeã do mundo no futebol feminino” (TEIXEIRA JR., 2006, p. 13-14). Mas já em 1880, na Inglaterra, as mulheres fizeram uma apresentação de um jogo de forma acanhada; no ano de 1813 foi feito um jogo entre as seleções da Inglaterra e Escócia e, por volta de 1908, e, em 1909, as mulheres brasileiras dão o pontapé inicial na bola, ocorrendo mais tarde – no ano de 1913 – um jogo no Estado de São Paulo com intuito beneficente, apoiado pelos médicos da época, sendo o maior fato de curiosidade, que chegou a ser publicado com o título “As mulheres podem jogar futebol” (TEIXEIRA JR., 2006, p. 15). O primeiro patrocinador brasileiro do futebol feminino surgiu no ano de 1940, quando um atacadista incentivou o campeonato feminino tendo como premiação um par de sapatos. Nessa década, o futebol feminino foi proibido com argumentos higienistas, e no Brasil foi proibido com argumentos machistas e infundados. Dizia-se que afetava a feminilidade desde sua sexualidade à delicadeza, sendo que Sugimoto, político da época, escreve a seguinte carta a Getúlio Vargas: [venho] Solicitar a clarividente atenção de V. Ex. para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina. Refiro-me, Sr. Presidente, ao movimento entusiasta que esta empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadores de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar esse esporte violento, sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe… Ao que dizem os jornais, no Rio, já estão formados, nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte também já estão constituindo-se outros. E, neste crescimento, dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil, estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol, ou seja, 200 núcleos destroçadores de saúde de 2.200 futuras mães que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes. (Jose Fuzeira, em carta datada de 25/04/1940 e repercutida pela imprensa). (TEIXEIRA JR., 2006, p. 16). Assim, na era Vargas, surge a lei “DL nº 3.199, artigo 54” que proíbe a mulher de realizar atividades esportivas como futebol e futsal, só sendo revogada no ano de 1979, ou seja, 38 anos após sua proibição: Às mulheres se permitirá a prática de desporto na forma, modalidade e condições estabelecidas pelas entidades internacionais dirigentes de cada desporto, inclusive competições, observando o disposto na presente deliberação. (Deliberação CND Nº. 7/65. Nº. 1). (TEIXEIRA JR., 2006, p. 17). Deste modo, no ano de 1982, uma nova era no futebol feminino, surgindo equipes de futebol, inicia-se, ao lado de uma cultura diferente no Brasil, uma prática diferenciada, que se junta ao estilo do povo brasileiro, onde podemos dizer que com a bola se realiza uma arte corporal imitável, sendo uma dança nos pés femininos, uma arte de espetáculo. Assim, o futebol, além de ter arte, passou a ter charme. Embora se possa dizer que o futebol/futsal quebrou dogmas e, deste modo, os preconceitos existentes nas eras anteriores, deram lugar a liberdade feminina. Enfatizando que a atividade física é natural do corpo feminino, mobilizando energias e influências do seu potencial emocional, e de todas essas atividades, mobilizaram na mulher força, destreza, velocidade, habilidade, esforço e dedicação ao esporte, bem como melhor qualidade de vida. Tudo isso passou então a provocar maior conhecimento do universo feminino em características emocionais, psicológicas e físicas (TEIXEIRA JR., 2006). Essa evolução no esporte feminino se distanciou da era antiga, onde na Grécia, por exemplo, as mulheres eram proibidas de fazer qualquer atividade física, pois não podiam se equivaler ao homem. Porém, a história evoluiu e a mulher pode ter importantes participações no esporte, e, em principal, no futebol/futsal que enfrentou diversos dogmas, provando sua qualificação na modalidade (SIMÕES, 2003). Hoje, nos países europeus e nos Estados Unidos, o futebol/futsal é uma realidade que movimenta milhões. Podemos citar a Copa da Uefa de futebol feminino, que ocorreu em 2005, na qual a Alemanha foi campeã. Por conta desses eventos, notamos que, nos países desenvolvidos a futebol, é uma realidade que movimenta milhões, tem incentivo dos veículos de comunicação, dos jornais em geral, nas escolas e universidades, pois há organização, estrutura e investimentos, e os dividendos para a Fifa e seus promotores têm sido lucrativos. Além disso, os clubes que investiram no futebol e futsal feminino apresentam uma realidade de alto rendimento financeiro (isto nos países desenvolvidos). Vemos que a realidade está mudando, pois a mulher também gosta de futebol desde sua infância, aprendendo a dar dribles e fintas, começando nas ruas, escolas e em casa, com incentivo de suas famílias. É inegável que o povo ama a bola, sendo seu ópio, uma forma de transformação corporal em vivenciá-la, compreendendo e criticando (TEIXEIRA JR., 2006). Podemos, assim, pensar que os movimentos esportivos são expressões corporais, onde o corpo experimenta ações diversas. No Brasil, o futebol, em geral, está relacionado à cultura, mas, acima de tudo, é um ato de expressão e incentivo de coletividade e individualidade que vive emoções diferenciadas e livres, mostrando seu potencial em fazer algo. Podemos afirmar que o futebol é fenômeno de várias culturas, com raízes em cada sociedade de práticas diversas (DAÓLIO, 2006). Hoje é uma mania de muitas pessoas dizerem que muitas meninas já nascem querendo jogar futebol por incentivo de alguém na família. Além disso, os últimos acontecimentos esportivos atuais deste nosso século vêm influenciando ainda mais essa realidade. Segundo o Centro de Pesquisas Interdisciplinares do Futebol (Cepif, 2007), a beleza de jogar está sendo resgatada pelas meninas em seu modo de jogar totalmente brasileiro, em sua corporalidade, peculiares do futebol nacional. Todavia, é importante ressaltar que o futebol feminino está em um processo lento por não ter campeonatos nem investimentos, afetando, assim, sua estrutura organizacional. Mas, mesmo com essas dificuldades, muitas meninas procuram escolas de futebol/futsal para aprender a dar os primeiros passos na quadra ou gramado. Essas meninas mostram em campo/quadra “Características como astúcia, ligeireza e espontaneidade vinculadas, tanto a expressão corporal do povo brasileiro, em seus jogos e danças, quanto ao repertório de jogadas dos craques dos clubes e da seleção” (Cepif, 2007, p. 3). Para manter essa beleza do futebol/futsal feminino é importante ressaltar que os profissionais de Educação Física precisam estimular as meninas a jogarem em escolas, clubes e ruas, procurando manter uma base sólida de influências motoras em sua infância, desde os movimentos básicos (andar, correr, saltar), não colocando o esporte apenas como competição, mas sim levando o esporte para a educação e trabalhando sem cobranças e pressões. Segundo Barbanti (2005, p. 35), “As crianças de hoje perderam a riqueza de movimentos das últimas gerações. Não sobem mais em árvores, não nadam nos rios, não brincam de pega-pega. Todas essas atividades são indispensáveis para que no futuro elas consigam se tornar esportistas saudáveis”, e, assim, formar atletas olímpicas, pois toda a base começa na infância. Deste modo, mexer com o corpo é se mexer no ambiente do qual se faz parte, fazendo de cada gesto uma técnica corporal, porque todos os seres têm movimentos naturais, mesmo em suas diferenças (DAÓLIO, 2006). Podemos citar como exemplo o vôlei, que inicialmente era jogado por mulheres, e mais tarde passou a ser domínio dos homens, vivendo sua evolução tanto cultural quanto social. Deste mesmo modo, o futebol, que começou com os homens, agora também faz parte da cultura feminina. Bibliografia BARBANTI, VALDIR JOSÉ. Formação de esportistas. São Paulo: Editora Manole, 2005. CEPIF (Centro de Pesquisas Interdisciplinares do Futebol). As artistas da bola: o futebol feminino e a brasilidade futebolística. Disponível em . Acesso em 1 de maio de 2008. DAÓLIO, JOCIMAR. Cultura: Educação Física e futebol. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006. SIMÕES, ANTÔNIO CARLOS. Mulher e esporte: mitos e verdades. São Paulo: Editora Manole, 2003. TEIXEIRA JUNIOR, JOBER. Mulheres no futebol: a introdução do charme. Porto Alegre: Brasil, 2006. Nós, do Programa Escola da Família, aos domingos, das 9h00 às 11h00, nosso time, que é composto de alunas da escola e jovens da comunidade, treinam e jogam, com muito entusiasmo, preparando – se para que num futuro próximo,possam jogar profissionalmente.

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